HÉCATE

O nome de Hécate pode ser traduzido como a forma feminina de “faz o que quer”. Como Afrodite, Hécate é independente, não pertence à família Olímpica. Mesmo assim, mantém no Olimpo todos os privilégios de uma grande deusa.

Invocada, Hécate pode propiciar opulência, boas colheitas, grandes rebanhos, pesca abundante, eloquência nas assembléias e vitórias nas batalhas. Mas, como ela é aquela que faz o que quer, pode igualmente destruir tudo o que oferece, a seu bel-prazer. O Hino homérico a Hécate sugere que, se os ritos forem corretamente seguidos, Hécate pode acolher a prece do suplicante - desde que seja essa sua vontade...

Profundamente misteriosa, de poucas palavras, Hécate tem poderes sobre terra, céu e mares, mas sempre viveu longe da cultura e da civilização, e foi nas profundezas da Terra que ela fez sua morada. É a deusa do mundo das sombras e da magia, considerada a principal referência para bruxarias e encantamentos.

Hécate conhece bem as entranhas da Terra. Foi ela quem confirmou o rapto de Core, porque a obscura região do inconsciente que a Jovem percorreu, o abismo da passagem de menina para mulher, é familiar à Deusa, assim como todos os abismos e regiões ocultas do inconsciente.
A Deusa Subterrânea conhece também os frutos da terra. Segundo algumas tradições, ela é mãe ou tia de Medéia, que com suas ervas, venenos e sortilégios destruiu dois reinos, e de Circe, a bela feiticeira que atrasou a viagem de Ulisses de volta à casa.

A Toda-Poderosa reina sobretudo nas noites escuras, e pode surgir sob forma de loba, cadela ou égua, ou ainda acompanhada dessas fêmeas. Preside às encruzilhadas, principalmente onde se encontram três caminhos, e é muitas vezes representada com três corpos e três cabeças.

Embora noturna, Hécate aparece às bruxas e feiticeiras com uma tocha em cada mão, como Héstia. A luz que ela traz fere a escuridão dos subterrâneos, como se lembrasse que os monstros, fantasmas e espectros que se agitam nas curvas escuras do inconsciente são na verdade uma imensa reserva de energias que devem ser reconhecidas e criativamente organizadas, como um dia, fora do tempo, por uma decisão de Gaia, o caos se organizou em cosmos.

Hécate representa um momento de profundidade e concentração, o esforço da vontade, a luta pela afirmação de si mesma. Em todas as situações em que a alma empreende uma descida às profundezas, seja de modo auto-destrutivo, para o exercício do auto-conhecimento, ou para tomar impulso para um novo recomeço, Hécate está presente.