HERA

A mais jovem das irmãs divinas passeava despreocupadamente em seus jardins, quando vê um pássaro ferido no chão, um cuco de asa quebrada. Sensibilizada, Hera leva-o ao colo, carinhosamente. Mas não é mais um pássaro, é Zeus disfarçado! O poderoso Pai dos Deuses apossa-se dela num abraço violento, e assim Hera sofre sua primeira traição: submetida e violada, não tem outra opção senão ceder aos desejos dele e casar-se.

Hera é a irmã de Zeus, sua igual. Zeus precisava dela para realizar o hierósgamos, o casamento sagrado, e confirmar sua soberania. Depois de uma lua-de-mel de trezentos anos, ela se torna A Esposa, primeira-dama do Olimpo, defensora dos amores legítimos e da vida conjugal. Mas Zeus continua entre as mais belas deusas e mortais, cumprindo seu papel de fecundador... Hera, atada às cadeias do lar olímpico, arquiteta vinganças contra as inúmeras amantes e filhos bastardos que ele não se preocupa em esconder. Quanto mais Hera é humilhada por Zeus, mais ciumenta e vingativa se torna. Sua fisionomia é séria e dura, seu temperamento irritadiço. Ela é conhecida como a deusa que nunca sorri!

Por outro lado, Hera encarna e espelha o poder como nenhuma outra deusa jamais sonhou. Obedecida por todos, mortais ou imortais, suas únicas disputas são com Zeus. Nesses confrontos, ela é capaz de usar qualquer artifício para vencê-lo - mentir, subornar, corromper - mas nem sempre consegue.

Um de seus mais terríveis conflitos foi sobre o prazer que o homem e a mulher tirariam do sexo. Zeus, tentando justificar suas aventuras, tentava convencer a esposa de que o homem, por não conseguir extrair da atividade sexual tanto prazer quanto a mulher, precisava de quantidade e variedade. Hera, evidentemente, não concordava. Então, para esclarecer a questão, chamaram pelo testemunho de Tirésias, um mortal que teve a experiência de ser mulher por seis meses. Ao ser perguntado, Tirésias respondeu, sem hesitar, que as vantagens no prazer do amor eram das mulheres, na proporção de 9 para 1! Isso deixou Hera furiosa, e, num acesso de fúria, a deusa cegou o “infiel” Tirésias.

Zeus conhecia muito bem o rancor e a irritabilidade da esposa, e procurava evitar como podia. Esquivava-se, tentava harmonizar ou até perdia a paciência e castigava-a violentamente. Diziam até que a única coisa mais perigosa que o avassalador poder de Zeus era o humor, não menos avassalador, de Hera...

Como Zeus, Hera personifica o poder e a soberania. Seu arquétipo corresponde à mulher-esposa, que é ciosa do poder que adquire associando-se ao homem, a quem tem como centro de todas as atenções.